terça-feira, 29 de maio de 2007

Um desafio

Vamos iniciar na próxima quinta-feira sessões de meditação das 7h às 8h da manhã (de segunda a sexta) na UBP Porto, Rua da Restauração, 463, 2.º A entrada é livre.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Cada instante Aqui-Agora!!

Como se deveria viver o instante do Aqui-Agora?
Como implementar no dia-a-dia o estado do Aqui-Agora?

Todos nós somos bombardeados por tantos estímulos, a nossa mente salta incessantemente de assunto para assunto e facilmente nos distraímos.


Não descobri nada e nada inventei, apenas estou a tentar implementar o que me ensinam e descobri que andava adormecida.


Comecei por dizer de uma forma clara a palavra referente ao instante que estava a viver por exemplo: se estou a conduzir dizer calmamente e conscientemente “conduzir”, se estou a escrever dizer conscientemente e calmamente “escrever”, se estou a descascar uma cenoura dizer “cenoura”.

A diferença entre dizer estas palavras e simplesmente fazer o que sempre fazia, reside no facto de que, de repente, estava plenamente presente e desperta, como se estivesse a fazer todas aquelas actividades pela primeira vez. Inclusivamente os meus olhos estavam mais focados e concentrados no instante, sem pensar nem deambular por outro assunto, só um de cada vez.

A sensação é interessante, estar a observar o que se sempre se viu mas afinal não se viu!

Dificilmente as palavras fazem justiça ao que se sente, se aprende ou se descobre. Por isso vivam o instante Aqui-Agora, experimentem a sensação, é de uma lúcidez....!


quinta-feira, 24 de maio de 2007

Voltar a casa


O nosso desejo mais profundo é voltar a casa, voltar à nossa natureza original


Nascemos com a Mente de Buda não-nascida. Pertence-nos desde sempre, é intrínseca à nossa própria natureza. Tudo o que existe é uma manifestação desta Mente. Nem toda a gente compreende que a sua vida é uma expressão do Não-nascido, mas cada um de nós tenta experienciar esse estado mental natural. Estamos a voltar a casa.

A Mente de Buda não-nascida tem sido chamada de muitas formas – natureza de Buda, Verdadeiro Eu, verdadeira natureza, o absoluto, a Fonte – mas não há nome que a possa atingir ou descrever. Todos os nomes ficam aquém. Contudo, quando a experienciamos, vivemos um momento de reconhecimento. Saímos de casa mais cedo do que gostaríamos e com o tempo as experiências da vida afastaram-nos cada vez mais. Muitos anos passaram até compreendermos que nos perdemos.

Há muitas maneiras de voltar a casa. Só na meditação Zen, há muitas formas. Os estudantes do Zen geralmente aprendem práticas de meditação como concentrar-se na respiração ou num koan; alguns aprendem shikantaza. Todos estes métodos ensinam-nos a focar-nos e concentrar a mente. Contar as respirações é uma das formas mais fáceis de meditação, por isso muita gente começa por aí. O que há de espantoso com isso é que, embora este método seja muito simples, podemos percorrer todo o caminho e chegar a casa com a contagem da respiração. Assim, não há realmente entre as práticas que consideramos para principiantes e as mais avançadas. Mas diferentes formas de meditação requerem diferentes graus de concentração, portanto há vários níveis de dificuldade. Quando adquirimos experiência, vemos que todas as práticas partilham uma mesma essência: são ferramentas para experienciar tornar-se “um com” – um com a respiração, um com o koan, ou apenas sentar. Ser “um com” é a chave para voltar para casa.

Quando nos tornamos um com a respiração, compreendemos de repente que já voltámos a casa. Ao princípio pode durar um momento, mas nesse momento reconhecemos a nossa verdadeira natureza, o Não-nascido. Somos Um; não há distância entre nós e a nossa respiração. A dicotomia entre sujeito e objecto desaparece, portanto já não há um lugar para onde ir ou lugar onde chegar. Não há ir e vir. Estamos em casa.

O nosso maior desejo é voltar a casa, voltar à nossa natureza original. Mas esse desejo foi enterrado por outros desejos, esperanças, sonhos. Através da meditação aprendemos a distinguir a nossa lista de desejos, mas é um processo que requer tempo. Quando os desejos pelas coisas deste mundo começam a desvanecer-se, vemos que nunca satisfizeram a nossa fome básica, o desejo de realizar a Natureza de Buda.

A prática da meditação leva-nos a fazer uma descoberta extraordinária: fomos e sempre seremos a Mente de Buda não-nascida. E quando vemos as coisas na perspectiva dessa Mente, experienciamos a mais profunda verdade, a realidade absoluta. Compreendemos que a mente não é nada mais do que a Mente de Buda não-nascida. Não há nada para procurar, nada a ganhar. Mas perceber isto de uma forma intelectual não chega. O contentamento só virá ao termos a experiência da nossa completude, da nossa totalidade, e isto significa que cada um tem de realizar a verdade directamente. Se eu vos disser que sois completos e unos e simplesmente aceitardes isto, nunca compreendereis por vocês mesmos a vossa unidade intrínseca. A nossa própria pobreza não pode ser aliviada ao avaliar-nos um tesouro que pertence a outrem.

Na experiência de não dualidade, vemos com os nossos próprios olhos que todos os opostos são um. Podemos chamar-lhe mente ou não-mente, eu ou não-eu, Dharma ou Iluminação, mas a experiência é sempre a mesma. Esta é a única verdade a ser ensinada, por isso ao ouvirem a mesma coisa durante anos podem ficar como que adormecidos ou desatentos. Uma forma de dar lugar a novas percepções é usar vários opostos e verificar onde ficamos bloqueados.

Há opostos como homem e mulher, vida e morte, nirvana e samsara, e muitos mais. Talvez não tenhamos experimentado a unidade destas dualidades, embora possamos acreditar que são uma. Mas quando se trata dos opostos mais familiares, aqueles com que nos debatemos todos os dias, é quando surgem as dificuldades. Peguem na estupidez e na inteligência, por exemplo. Todos sabemos que não são a mesma coisa, certo? Há a inteligência e há a estupidez. Como podem ser uma? Qualquer dualidade que pareça óbvia e verdadeira pode ser usada neste jogo. Neste caso, considerem e explorem como é que a estupidez é a inteligência, e como a inteligência é estupidez. Então apliquem esta nova percepção a vocês mesmos. Agora, isto parece não assentar tão bem, especialmente se nos vemos como inteligentes.

Na verdade, nós, os estúpidos, somos os inteligentes, e os supostos inteligentes são os estúpidos. Quando afirmo o quanto isto é verdade alguns estudantes começam a procurar tijolos para me atirar. É estranho que possamos aceitar o que Dogen Zenji nos diz – que samsara é nirvana e nirvana é samsara e que o Buda é um ser sensível e um ser sensível é Buda – e contudo muito dificilmente aceitamos que a inteligência é estupidez. Por que é que é tão difícil? A diferença parece residir naquilo com que nos identificamos. Quando consideramos dualidades familiares como activo, preguiçoso, esperto e estúpido, os opostos são algo com que nos podemos relacionar. Muitos de nós identificam-se pessoalmente com a inteligência, mas não com estar desperto ou adormecido. Desde a infância que a sociedade nos ensina que a inteligência é uma característica pessoal basicamente fixa; trabalhamos muito para enterrar a nossa estupidez.

Para conseguir alguma coisa na prática do Zen, temos de nos tornarmos bastante estúpidos. Por que é que uma pessoa inteligente se sentaria a contar a respiração, sete horas por dia?


Genpo Roshi

A Summer Retreat


with Amy Hollowell Sensei

In the Zen tradition, summer is an auspicious season for intensive practice, when practitioners retreat to the countryside, leaving behind their usual preoccupations. During this week of retreat in Portugal, the distance from our habitual activities will help us cultivate clarity and awareness and a more intimate experience of ourselves, others and the world.

Beginners and experienced practitioners alike are welcome.

Date: July 26 (18h) – August 1st (12h)
Place: Centro de Formação Agrícola de Malhadas (see their web page here)
Estrada Nacional, 5210-150 Malhadas (6 km far from Miranda do Douro) Portugal
Price: 175 euros (200 euros for registration after the 1st July), lodging and vegetarian meals included

For information and to register: ubporto@gmail.com
cell phone (351) 91 7088371

Amy Hollowell Sensei is a dharma heir of the French Zen teacher Catherine Genno Pages Roshi and a teacher within the international White Plum lineage, which incorporates both the Soto and Rinzai Zen Buddhist traditions.

Retiro de Verão

O primeiro retiro de Verão organizado pela delegação do Porto da União Budista Portuguesa no Norte!

Datas: de 26 de Julho a 1 de Agosto (uma semana)

Local: Centro de Formação Agrícola de Malhadas
(a 6 km de Miranda do Douro)

Mapa: http://www.capmalhadas.com/

Contribuição: €200

Condições: quartos de 3 camas; refeições vegetarianas

Para se inscrever, envie um cheque de €75 em nome da União Budista Portuguesa para a nossa morada na Rua da Restauração, 463 – 2.º 4100-506 Porto ou faça uma transferência bancária: NIB 0035 0374 0000 164743002 (CGD)

Contacto: 917088371 ou ubporto@gmail.com

O retiro inclui sessões de meditação, palestras, oportunidade para fazer perguntas, entrevistas pessoais com o professor (dokusan) e samu (meditação em acção, ou seja, trabalho! – limpeza, preparação das refeições, etc.)

Os nossos retiros são abertos a qualquer um. Ou seja, não é preciso ser budista, nem sequer de ter a intenção de se tornar budista, para participar. Principiantes e praticantes com mais experiência são igualmente bem-vindos.

O Centro de Formação funciona como uma quinta, inserida em plena natureza, no Parque Natural do Douro Internacional.

http://www.impactus.pt/douro_internacional.htm

Amy Hollowell nasceu em Minneapolis, nos Estados Unidos, em 1958. Emigrou para França em 1981 no final dos seus estudos universitários. Actualmente é jornalista num quotidiano internacional com sede em Paris. É também poeta - os seus poemas foram publicados nos Estados Unidos e na Europa. Começou a estudar o Zen com Roshi Catherine Genno Pagès em 1993 e ensina sob a sua direcção desde o ano 2000. Recebeu a transmissão do Dharma em 2004. Ensina a prática da meditação silenciosa (shikantaza) e a prática dos Koans.

O que é um retiro?

http://zen-pt.blogspot.com/2007/05/o-que-um-retiro.html

O que é o Zen?

http://zen-pt.blogspot.com/2007/05/o-que-o-zen.html

Porquê meditar?

http://zen-pt.blogspot.com/2007/05/porqu-meditar.html

Porquê meditar?

Diz-se que a meditação pode trazer benefícios físicos e mentais a quem a pratica com regularidade. Segundo estudos médicos, os seus benefícios variam entre o desenvolvimento da capacidade de concentração e de raciocínio a melhorias na actividade do sistema imunitário, a alívio de insónias e problemas relacionados com tensão alta. Os praticantes Zen não deixam, porém, de contrair doenças, de sofrer, de morrer. A meditação não é um meio para se alcançar a imortalidade física ou para se libertar das leis da natureza.


Somos o que pensamos.

Tudo o que somos provém

dos nossos pensamentos.

Com os pensamentos

Fazemos o mundo

(do Dhammapada)

Ver as coisas como elas são, incluindo nós mesmos, é o principal motivo que leva os praticantes Zen a meditarem. De um modo geral, não nos damos conta da relação entre os padrões habituais da nossa actividade mental e o sofrimento que eles nos causam a nós e aos outros. A observação consistente da mente, durante a meditação e ao longo do dia, revela-nos que grande parte do nosso tempo é despendido a correr atrás de certas coisas e circunstâncias e a rejeitar outras. Damo-nos conta que despendemos uma parte considerável do nosso tempo e da nossa energia a reciclar prazeres e agravos do passado, ou ocupados em como podiam ou deviam melhorar as coisas no futuro, comparando constantemente pessoas e coisas, encarando-as segundo categorias dualistas como bem e mal, desejável e indesejável, certo e errado, culpado e inocente, amigo e inimigo, etc.

Ao meditarmos, passamos a ver com maior clareza os nossos preconceitos e apegos, e isto faz com que procuremos aperfeiçoar o nosso carácter. A observação simples, honesta, não verbal, dos nossos processos mentais e emocionais produz de facto uma mudança no modo como encaramos as situações e as pessoas que encontramos. O efeito final é uma aproximação à vida que se manifesta em atitudes de não rejeição e de não apego, de não distorção da verdade, de abstenção do excesso de satisfação de desejos e de não cedência ao auto engano. Esta maneira de viver manifesta-se quer num plano pessoal quer num plano social, e decorre mais de uma profunda compreensão interior do que de um acto de vontade. Como consequência, tornamo-nos menos propensos, por exemplo, a tirar proveito egoísta da natureza ou do próximo, a voltar as costas à vida por ingestão de químicos ou de drogas, a fechar os olhos às necessidades dos outros e aos efeitos das nossas vidas no meio ambiente.

Uma prática contínua de plena atenção ao longo de muitos anos pode dar origem a experiências de profunda compreensão interior que transformam a visão que temos de nós mesmos, ao ponto de podermos ver que o eu a que estivemos ligados prazenteiramente ao longo da nossa vida mais não é do que uma miragem auto-construída. É como se descascássemos uma cebola. Os falsos pensamentos são removidos, camada após camada, até deixarmos de ver não só um eu dissimulado e fingido, mas também um eu desnudado. Aspiras a descobrires o teu eu, mas acabas por descobrir que não há nada a descobrir.

Em termos mais concretos, praticar meditação faz diminuir gradualmente a errância dos teus pensamentos até experimentares um estado de “não-mente”. Perceberás naturalmente que a tua vida no passado foi construída sobre um acumular de noções erróneas e confusas que não são o teu verdadeiro eu. O teu verdadeiro eu é um que é inseparável de todos os outros. A existência objectiva de todos os acontecimentos compreende todas as várias dimensões da existência subjectiva do teu eu. Não tens, portanto, que procurar nada nem desprezar nada. O que está diante de ti em cada momento é o que tens procurado, e não podes nem tens de lhe acrescentar nada para ele ser perfeito. Ao alcançar este estádio, o praticante de meditação torna-se compassivo para com todos os humanos e todos os outros seres. O seu carácter torna-se radioso, aberto, luminoso como a luz da Primavera. Apesar de poder manifestar emoções em prol dos outros, internamente a mente do praticante de meditação está constantemente serena e límpida como a água num lago de Outono. Uma tal pessoa pode ser considerada iluminada.

Segundo um ensinamento essencial do Zen, a porta interior está aberta a todos, homens e mulheres, velhos e novos, sábios e ignorantes, fortes e fracos, pessoas de todas as profissões, ofícios e origens, de qualquer religião e crença.

Todas estas palavras, no entanto, apenas falam do Zen, não são em si o Zen. A meditação Zen requer a tua determinação em aprenderes e a tua persistência em praticares. Falar do Zen sem o praticar só faz aumentar o conhecimento inútil e confuso da nossa já confusa mente. Não te é salutar alimentares-te apenas com imagens de comida.

(texto cortesia de Open Way Zen, traduzido por José Eduardo Reis)

O que é o Zen?


O Zen é um ramo do budismo que se desenvolveu na China (aí conhecido por Chan) e faz parte de uma antiga tradição com 2.500 anos fundada por Siddharttha Gotama. Este viria a ser conhecido por Buda, que significa simplesmente o “desperto”, e que viveu e morreu como um ser humano e não como um deus objecto de veneração. O Chan irradiou da China para a Coreia (aí conhecido por Son), para o Japão (por Zen) e para o Vietname (por Thien). Nos últimos quarenta anos, aproximadamente, criou raízes em muitos outros países.

Embora a escola Zen se conforme em todos os aspectos aos ensinamentos tradicionais budistas, possui, no entanto, uma espontaneidade que desafia a ortodoxia espiritual tradicional.

O Zen é uma prática de transformação dos processos mentais pela atenção dada ao presente. Pratica-se em todas as circunstâncias, no acto de mudar o babete a uma criança, numa reunião de trabalho com colegas, num engarrafamento, a cortar legumes para o jantar, ou sentado no topo de uma remota montanha.

(texto cortesia de Open Way Zen, traduzido por José Eduardo Reis)

O que é um retiro?


Um retiro é uma oportunidade de clarificar e aprofundar o que é realmente essencial para cada um de nós. Num retiro budista, tentamos criar as condições exteriores e interiores que nos permitem afastar-nos da agitação e dispersão da nossa rotina, de forma a podermos realmente descontrair e abrir. O ambiente envolvente, as práticas de harmonização corpo-mente, as refeições vegetarianas, o diálogo, o silêncio, reflectem esta procura de uma maior simplicidade e este processo de redescoberta de nós mesmos.

Com o desenrolar do retiro, atenuam-se as barreiras que separam o eu, o outro, o mundo. À medida que nos soltamos, a tranquilidade e a quietude dá lugar a mais disponibilidade, amplitude, alegria e mesmo gratidão. A tranquilidade faz emergir a apreciação pelas pequenas coisas e os gestos simples – os sons, os sabores, os cheiros, as sensações, o estar consigo, o estar com os outros.

Um retiro oferece a oportunidade de experienciar a vida de uma forma mais leve e receptiva. Ao estarmos mais atentos e conscientes de tudo, das nossas relações de interdependência com os outros, refinamos a nossa habilidade para nos ocuparmos de nós, dos outros e do mundo, com mais compaixão e sabedoria.


terça-feira, 22 de maio de 2007

Uma Mente

O Mestre disse-me: Todos os Budas e todos os seres sensíveis não são nada mais do que Uma Mente, para além da qual nada existe. Esta Mente, que não tem princípio, é não-nascida e indestrutível. Não é verde nem amarela, não tem forma nem aparência. Não pertence à categoria das coisas que existem ou não existem, nem pode ser pensada em termos de nova ou velha. Não é comprida nem curta, não é alta nem baixa, pois transcende todos os limites, medidas, nomes, traços e comparações. É aquilo que vês diante de ti – começa a raciocinar sobre isso e já estás a cair em erro. É como o vazio ilimitado que não pode ser concebido ou medido. A Uma Mente é o Buda, e não há distinção entre o Buda e os seres sensíveis, apenas os seres sensíveis estão apegados às formas e procuram a budeidade no exterior. Ao procurá-la, perdem-na, pois é usar o Buda para procurar o Buda e usar a mente para compreender a Mente. Mesmo que dêem o seu melhor durante todo um éon, não conseguirão atingi-la. Não sabem que, se pararem o pensamento conceptual e esquecerem a ansiedade, o Buda surgirá á frente deles, pois esta Mente é o Buda e o Buda é todos os seres vivos. Não é pior manifestar-se enquanto ser sensível, nem melhor manifestar-se enquanto Buda.

"The Zen Teaching of Huang Po"

domingo, 20 de maio de 2007

what is real?

The gaze of eternity

O Segredo e o Trabalho


Ainda não vi "The Secret", apenas foi referido pela Tsering da última vez que ela cá esteve. Entretanto estou a ler o livro de Byron Katie A Thousand Names for Joy. Descobri entretanto que Byron tem um blog, e num dos últimos artigos ela faz a distinção entre a técnica do "Segredo" e a do "Trabalho" (O Trabalho é o nome do processo de auto-investigação que Byron Katie ensina).
O Segredo: “Podes controlar os teus pensamentos.”
O Trabalho: “Não és o pensador. Não é possível suprimir os pensamentos negativos. Mas quando os questionas, eles largam-te.”
A resposta dela é tão espantosamente clara e simples, não é? :) Outro ponto:
O Segredo: “Podes manifestar os pensamentos positivos enquanto realidade.”
O Trabalho: “A realidade já é o melhor a manifestar-se. Quando realizas isto, és livre."
(na verdade, ela diz "you’re home free" o que é uma forma muito budista de se exprimir :) Também adoro um episódio que ela conta em que encontra amigos que não via há muito tempo e que lhe perguntam pela mãe. Ela responde: "Está óptima. Morreu." Claro que os amigos se sentiram desconfortáveis. Mas eu percebo-a muito bem. Há algum tempo recebi uma chamada em que alguém obviamente pesaroso me comunicava a morte de uma amigo. Não tive coragem de o dizer alto, mas o meu primeiro pensamento foi: "fantástico! que bom! agora o P. vai poder seguir viagem!"
Repousemos na frescura inalterada do momento presente. Mathieu Ricard
Muito Zen, não é? :)

sábado, 19 de maio de 2007

reencontro


Eu sempre pude ver este caminho à minha frente.

Fonte eterna de risos e danças.

Reconheço-me.

Lugar de ser e de estar, de todos os reencontros.

Vejo-me a olhar o meu irmão gémeo.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Desarmamento interior

Ontem estive em casa de uns familiares num almoço de família. Durante esse periodo observei uma das pessoas presentes que trouxe para a hora da refeição os seus mais recentes problemas.
Devido à dimensão desses problemas e também à sua gravidade, não mais parou de falar dominando toda a refeição.
Tanto sofrimento, tanta angústia. Vive num ambiente de invejas, raiva, luta, amargura, decepção e sei lá o que mais. Como seria de esperar não aproveitou convenientemente a refeição, que com tanto trabalho preparou para toda a família. Todos os outros pediam baixinho que se cala-se.
Ao ver-me envolvida nesta situação e estando presente ao momento, pensei o quão difícil é ver-nos livres dos nossos velhos hábitos, pois viver e cultivar todos estes sentimentos negativos, e querendo-os ou não, temos que ter consciência deles, identificá-los, para depois os conseguir tranformar em sentimentos mais positivos. É chamada compustagem de sentimentos transforma-se lixo em adubo para dar lindas plantas.
E então, questionei-me como deveria introduzir agora o amor e a compaixão?, eu sabia que a estória que estava a ser contada era séria e muito forte e tinha as suas raízes de raiva bem vincadas no terreno da discórdia.
Digo-lhe que se cale que estou farta de ouvir tanto ruído, num almoço que deveria ser de sossego?
Ao reflectir nestas duas questões pensei que esta pessoa sofria muito e que deveria viver muito só e com imensa falta de amor, e que estando perante tantas pessoas resolveu desabafar e num acto de desepero e pedir socorro. Nesse instante já não senti mais desprezo e achei que poderia ser um acto de compaixão ouvir em silêncio e com todos os meus sentidos toda a estória, e ao mesmo tempo desejar-lhe muito amor. Decidi pôr em prática o ouvir em consciência, proporcionando-lhe desse modo paz.
O resultado foi interessante pois com o passar das horas essa pessoa começou a ficar mais calma e de algum modo a tentar encontrar um meio para resolver tanta confusão.

Sua Santidade Dalai Lama diz que: “ A cólera e o ódio destroem a paz interior. A compaixão, o perdão, a fraternidade, o contentamento e a auto-disciplina são a base da paz, tanto interior como exterior. A paz duradoura só pode existir se se tiverem reforçado estas qualidades. É a isto que eu chamo desenvolvimento espiritual ou, por vezes, desarmamento interior. Na realidade, a todos os níveis da nossa existência – familiar, social, profissional e político – é deste desarmamento interior que a humanidade precisa.”

Todos podemos contribuir para que tal aconteça e são muitos os caminhos que podemos percorrer, mas vale a pena pôr em prática todos estes ensinamentos !!

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Compaixão e sabedoria

A nossa prática do Dharma só pode beneficiar o mundo. Conforme as nossas mentes se purificam dessas forças que criam sofrimento, os hábitos de cobiça, ódio e ignorância, o mundo fica mais liberto das muitas consequências desses estados mentais. Mas o que é necessário para ir da compreensão de que a nossa prática inevitavelmente ajudará outros até fazer da felicidade dos outros a nossa motivação para a prática? Conhecendo as nossas próprias limitações, poderemos realisticamente colocar esta motivação logo no princípio? E qual o efeito de o fazer?


Um ponto de viragem para mim na abertura a esta possibilidade ocorreu num retiro Dzogchen. Nyoshul Khen Rinpoche deu ensinamentos sobre bodhicitta relativa e absoluta. Bodhiccita significa literalmente “coração/mente desperta”. No plano relativo é compaixão, expressa no voto de bodhisattva de salvar todos os seres; é a aspiração para despertar da ignorância de forma a viver para o benefício de todos os seres. No plano absoluto, bodhiccita está para além dos conceitos de eu e o outro. É a natureza desperta e vazia da própria mente. Quando Rinpoche ensinava estes dois aspectos – compaixão e vacuidade – houve um momento inesperado de compreensão quando percebi que o plano relativo é a expressão do absoluto: a compaixão é a actividade da vacuidade. De repente o grande e aparentemente impossível fardo de “alguém” (eu!) a ter de salvar todos os seres dissolveu-se na grande arena expansiva da acção altruísta e compassiva. A acção compassiva é a reacção natural à consciência livre do eu: não há ali ninguém a fazer alguma coisa.


No seu ensinamento sobre o homem (ou mulher) sem dependência, Rinzai, mestre Zen chinês do século IX, expressou a criatividade e ilimitado potencial de uma pessoa aprisionada pela noção de eu:


Se um homem me vem perguntar pelo Buda, como homem sem dependência, apresento-me em estado de pureza e limpeza. Se pergunta por um Bodhisattva, apresento-me num estado de compaixão e benevolência. Se pergunta por Bodhi – a verdadeira sabedoria – apresento-me num estado de pureza e delicada humildade. Se pergunta pelo Nirvana – a iluminação completa – apresento-me num estado de total serenidade. Embora haja centenas de milhar de estados, enquanto homem sem dependência, sou sempre o mesmo. Portanto a minha apresentação de vários estados de acordo com os requerimentos é apenas como a Lua que livremente apresenta as suas imagens na superfície da água.


Aqui, então, é onde a bodhicitta relativa e absoluta – compaixão e vacuidade – se fundem, tornando-se expressões uma da outra. Quanto mais praticamos a capacidade de reacção compassiva da bodhicitta relativa, mais facilmente reconhecemos a qualidade de não-ego da essência da mente. E quanto mais reconhecemos o estado desperto, inato e vazio, da natureza essencial da mente, mais espontaneamente compassivos estamos em todas as situações.

Joseph Goldstein, One Dharma

Meditação activa



"O Buda não obteve nada!
Nem tão pouco perdeu alguma coisa!
Ele apenas descobriu que tudo está bem como é, como ele é, como tu és, AGORA! "


de "Um passo mais..., Folhas caem um novo rebento", de Hogên Yamahata

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Um artigo de referência

Fundamentos da meditação Zen
tradução de José Eduardo Reis, cortesia de Open Way Zen

próximos retiros

SESSHIN Retiro de Verão
com Amy Hollowell Sensei.
Local: a confirmar
Datas: de 29 de Julho a 4 de Agosto

RETIRO ZEN O Zen do Caminho Aberto
com Francis Chauvet
Local: a confirmar
Datas: de 9 a 11 de Novembro 2007

RETIRO Libertando-se dos hábitos
com Martine Batchelor
Datas: de 12 a 13 de Janeiro 2008

Mais informações brevemente.
organização: UBP Porto

Sessões de Introdução ao Zazen

em Custóias: 19 de Maio 2007, das 16h30 às 19h30

em Coimbra: 27 Maio 2007, às 15h00

“Zazen é meditação sentada. Em Japonês, za significa 'sentar'; zen significa 'tranquilidade'. Em chinês, za significa 'duas pessoas sentadas no universo'. Não nos podemos sentar sozinhos, no nosso território individual e egocêntrico. Temos de nos abrir e sentar no universo, com todos os seres sensíveis. Esse sentar é Zen, tranquilidade. O universo, a terra, todos os seres e todas as circunstâncias estão sentados connosco.” (Dainin Katagiri Roshi)

Descrição: a sessão consta de uma introdução à meditação sentada (Zazen) e à meditação em andamento (Kin’hin) tal como se pratica na tradição Zen japonesa, e visa desenvolver a atenção plena dada a cada instante através de uma atitude correcta no Zendo.

Local: (Custóias) Rua Santiago, 503 (ao lado do Pingo Doce)

(Coimbra) Rua Daniel de Matos, n.º 10 – 3.º esq. Bairro Norton de Matos

Inscrições: Custóias: 96 0266750 / 91 4992514 / budokenkyu.kai@gmail.com

Coimbra: 91 9522724 (Maria Amélia)

Material: trazer roupas largas e confortáveis

Sessão orientada por Margarida Cardoso, praticante budista desde 1985. É responsável pela delegação do Porto da União Budista Portuguesa e pratica Zazen sob a direcção de Sensei Amy Hollowell

Kanzeon






"- Pensas demasiado." E depois, mostrou a flor de lótus que tinha colhido de madrugada para as suas devoções, e exclamou: "Kuan Yin (Kanzeon) está aqui em frente do teu nariz. Cheira!"